Seria talvez ousado esperar que por ser a menor capital do Brasil Aracaju teria facilidade em se tornar rapidamente uma Amsterdã, capital holandesa, referência mundial em mobilidade urbana. Lá quem reina é a bicicleta, mas na mesma proporção de ciclovias por todo lado da cidade, vemos também as faixas exclusivas ou os próprios corredores para ônibus. Os veículos motorizados particulares ficam em terceiro plano, sendo mais provável se ver congestionamento de bikes do que de carros/motos. A intensa prioridade ao senso coletivo estampada em toda Amsterdã pode parecer demais agora para a capital sergipana, mas se os pequenos passos já iniciados dessa consciência – como a implantação de faixas prioritárias para ônibus nas duas maiores avenidas da cidade – forem contínuos e mais largos, a pequena do Brasil pode, sim, ser um grande exemplo de mobilidade urbana.
A faixa exclusiva para o ônibus, que sozinho transporta dez vezes mais o volume de pessoas que dez carros transportariam, é uma ação simples que está obtendo resultados positivos no trânsito de todas as demais capitais e na maioria das cidades do país. São mais de 1.038 Km de extensão de faixas exclusivas pelo Brasil, e, no Nordeste, os passageiros do coletivo de Fortaleza, João Pessoa, Natal, Recife, Salvador e Maceió têm provado da redução do tempo das viagens pela fluidez proporcionada pelas faixas. Em Aracaju, apesar da resistência de muitos motoristas em respeitarem o espaço prioritário para ônibus, as linhas que trafegam nessas faixas têm obtido a redução de 40% do seu tempo de viagem.
De dentro do ônibus é comum se ouvir observações como a do trabalhador Marcos Luiz: “é uma melhoria sem dúvida. Eu chego mais cedo ao meu trabalho. Eu levava quase 40 minutos para chegar ao (Conjunto) João Alves. Agora chego em 20 a 25 minutos dependendo do trânsito. O que falta é só cada um respeitar e fazer sua parte pensando no coletivo”, frisou ele. Já o carteiro Helder de Araújo vai além: “eu utilizo ônibus o dia todo, são muitos bairros percorridos e preciso manter a pontualidade. O trânsito sempre foi um empecilho para mim, mas com as faixas exclusivas isso mudou. Esse foi um passo certo para o transporte”. Sem dúvida esses pensamentos refletem o entendimento das mais de 270 mil pessoas que utilizam diariamente o transporte coletivo por ônibus em Aracaju e sua região metropolitana para se deslocar aos serviços essenciais.
De acordo com a Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU), as faixas exclusivas foram adotadas para estabelecer algum tipo de prioridade para o transporte público por meio de projetos de intervenção de baixo custo financeiro – faixas pintadas no chão e fiscalização de uso pelo órgão gestor de trânsito. As faixas contribuem para a eliminação e/ou a redução da interferência causada por outros veículos na operação dos serviço do transporte público, garantindo o aumento da velocidade operacional e fluidez na circulação; diminui o tempo do passageiro dentro do ônibus; impacta positivamente nos deslocamentos individuais; facilita a integração com os outros modos de transporte; e, entre outros tantos fatores, proporciona o compartilhamento dos espaços da cidade de forma justa e racional. Sobretudo, serve diretamente à população de baixa renda e àqueles que, mesmo sendo de classe média, apostam no bom senso da economia com o transporte coletivo.
Nas estatísticas do setor de transporte de Aracaju, é notado que 70% de trabalhadores e estudantes usam o ônibus todos os dias, e cerca de 80% dos pacientes e visitantes do Hospital de Urgências de Sergipe (HUSE) se deslocam para o local de transporte coletivo. Quão benéfica deve ser a prioridade para o ônibus para esse volume de pessoas? Sem contar a redução de riscos de acidentes de trânsito envolvendo ônibus e outros veículos, e mais tranquilidade para os motoristas do coletivo no cumprimento dos horários de paradas nos pontos. Até o meio ambiente agradece, já que a maior velocidade para o tráfego do ônibus e redução do tempo de viagem rendem, por tabela, a redução da emissão de poluentes pelo veículo, que, por sua vez, já sai de fábrica com uma tecnologia redutora desses gases.
Enfim, por hoje, recordo que um estudo realizado pela NTU, em 2016, concluiu que a priorização do transporte coletivo por ônibus é a mais importante ação para superar as dificuldades da mobilidade urbana e seguir o que instituiu a Lei da Política Nacional de Mobilidade Urbana n° 12587/2012, reafirmando o direito constitucional de ir e vir de todo cidadão. Ainda conforme a NTU, 15 mil pessoas podem ser transportadas por hora em cada faixa exclusiva de ônibus, enquanto apenas 1 mil transitariam por hora nos automóveis em cada uma das demais faixas. Ou seja, o transporte coletivo carrega 150% mais pessoas.
Até a próxima!
Raissa Cruz, jornalista.