Na coluna de hoje, temos alguns dos pilares para um sistema de transporte coletivo com maior qualidade e sem colapso econômico, no artigo do presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Otávio Cunha Filho. Boa leitura!

Transporte melhor e mais barato

 

Mais por menos é o desejo universal do consumidor. Não seria diferente com o usuário do Transporte Público por ônibus, segundo revela pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), em parceria com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), que entrevistou 3,100 mil pessoas em 35 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. O custo da passagem, que hoje pesa unicamente no bolso do usuário do serviço – exceto em São Paulo e Brasília, que oferecem subsídios expressivos -, foi citado como problema recorrente por 64,5% dos entrevistados, seguido por insegurança/violência e pouco conforto. O preço da tarifa também é o vilão da queda de demanda de passageiros, segundo revela a pesquisa. Entrevistados que diminuíram o uso ou deixaram de usar o ônibus afirmaram que só retornariam caso houvesse diminuição no valor da passagem (34,5% do total de entrevistados).

Entender o comportamento do usuário do transporte e usar as informações para desenhar um novo modelo que possa atendê-lo pode parecer utopia, mas era o que se tinha em mente quando se optou por conhecer o que passageiros pensam sobre o serviço. Surpresa? Nenhuma. A redução no número de usuários é um problema que desafia as empresas de ônibus há uns 20 anos, segundo registra o Anuário da NTU, que acompanha de perto o desempenho dos principais indicadores do setor. No mais recente levantamento, relativo ao período 2016-2017, o número de passageiros permanece em queda. São 3 milhões de usuários a menos por dia, na comparação entre 2016 e 2015. Por essa razão, a pesquisa Mobilidade da população urbana 2017 cumpre a missão social de identificar padrões mais complexos de comportamento do usuário do ônibus urbano no Brasil, em contexto agravado por severas mudanças na forma de se deslocar, diante da situação econômica do país e dos avanços tecnológicos ocorridos nos últimos anos.

Esse estudo deve ser visto como uma ferramenta de apoio ao enfrentamento da situação, que hoje coloca em risco a continuidade desse serviço e deixa em alerta as empresas de ônibus. A pesquisa traduz em números o atual cenário, no qual não é mais possível adiar decisões urgentes para reerguer um sistema de transporte combalido e ainda longe de atender ao principal anseio social por melhor qualidade e preço acessível. Essa meta não é utópica, poderá ser alcançada a médio e longo prazos, mas só será factível com o firme comprometimento do poder público e de empresários dispostos a investir em ações estruturais e concretas, que passam por planejamento e investimento em infraestrutura viária, visando priorizar o transporte coletivo, resultando em sistemas sustentáveis e racionais, que ofereçam mais conforto, menor tempo de viagem e maior segurança aos passageiros, a um menor custo operacional – como, por exemplo, com a implantação das faixas exclusivas para ônibus.

Ainda mais importante é a adoção de uma fonte de recursos extra tarifários capaz de suprir parte dos custos do serviço de transporte, hoje assumido exclusivamente pelo usuário do serviço, inclusive no que tange às gratuidades nas capitais onde não há fonte de custeio. Vale destacar que os países com transporte de qualidade dispõem de subsídios que aliviam o peso da tarifa, atendendo às expectativas de seus usuários. Para cada uma dessas demandas já existem propostas e soluções, ainda adormecidas na burocracia e no equivocado modelo de gestão vigente em várias esferas da administração pública. (Por Otávio Vieira da Cunha Filho, presidente executivo da NTU).

* Todo 2° e 4° domingos do mês estamos por aqui falando sobre mobilidade, e, consecutivamente, também no blogmobilidade.com – onde o espaço está aberto para comentários. Até mais! – Raissa Cruz, jornalista.

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