Parte importante do tripé que reúne os projetos de priorização do transporte público, ao lado do BRT (transporte rápido por ônibus) e dos corredores, as faixas exclusivas já estão presentes em pelo menos 39 cidades de 20 estados, com um total de 1.416,2 km em 154 empreendimentos (125 em operação, oito em obras e 21 no papel). Os dados são da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), em documento divulgado em novembro deste ano.
Um bom exemplo do sucesso das faixas exclusivas está em Fortaleza. Atualmente, a capital cearense ocupa a terceira posição no ranking de cidades com mais projetos, com 128,4 km em vias operantes e previstas, atrás apenas de São Paulo (513,1 km) e Belo Horizonte (144,3 km). Desse total, 101 km já estão em pleno funcionamento, beneficiando um milhão de passageiros que hoje utilizam o sistema. Até 2012, eram apenas 3,3 km de faixas exclusivas.
Apesar de não contemplar todas as linhas em sua totalidade, as faixas exclusivas transformaram a realidade do transporte público em Fortaleza, que se tornou referência nacional no tema. “Muitas vezes, a faixa é aplicada somente nos pontos mais críticos. Mas, onde ela existe, a velocidade comercial chega a dobrar, o que reduz o tempo das viagens pela metade. As vias exclusivas contribuem para um transporte mais regular. Fortaleza tem uma curva de crescimento da frota individual muito acentuada. Sem as faixas, o nosso transporte já estaria inviável, teria entrado em colapso”, observa o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), Dimas Barreira.
Estamos falando de uma velocidade que já foi de 10,5 km/h em 2012, antes das faixas, e hoje chega a 22,03 km/h dentro delas. Assim, o transporte público ganha regularidade: desde janeiro, o setor está conseguindo cumprir 99,7% das viagens, sendo que algumas delas têm alcançado redução de tempo que chega a 40 ou 50 minutos por viagem. Ganha o passageiro, com mais tempo para lazer, estudo e outras coisas, ganham as empresas, que economizam na operação, e ganha a cidade, com mais mobilidade e menos emissões de poluentes.
“O ganho da velocidade média é muito grande. Ela estava caindo ano após ano, com o aumento de automóveis nas ruas. Então, o ônibus levava um tempo expressivo em uma única viagem, disputando espaço com muitos carros particulares. Agora, esse mesmo ônibus consegue fazer até duas viagens no mesmo prazo em que fazia apenas uma. O tempo que os usuários estão economizando, esse é, com certeza, o maior benefício”, comemora o vice-presidente da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), Antônio Ferreira.
Faixas reduzem queda da demanda
As faixas exclusivas ainda não alcançaram a façanha de aumentar o número de passageiros do transporte público, na avaliação do Sindiônibus. Entretanto, elas tiveram e ainda têm o importante papel de estancar a perda de demanda que assola o sistema em todo o país há vários anos. “Fortaleza, assim como o restante do Brasil, enfrenta essa queda, resultado de uma economia desfavorável e da falta de investimentos. Mas posso dizer que a redução por aqui está abaixo da média. O serviço regular é mais atraente para o nosso público, por isso perdemos menos demanda que a maior parte do país”, pondera Dimas Barreira.
Essa regularidade tão celebrada conta com a contribuição do controle operacional, realizado em duas frentes: em um centro onde o acompanhamento ocorre em tempo real, via GPS, e pela equipe de 200 pessoas que atua em campo, a fim de evitar os chamados comboios (formação de grupos de ônibus). Assim, por meio da comunicação, é possível evitar que um congestionamento faça um ônibus ficar muito próximo a outro. Com as faixas exclusivas, esse trabalho fica facilitado, levando a uma melhor distribuição da oferta e redução no tempo de espera dos passageiros nos pontos de ônibus.
Mas os benefícios não cessam aí. Segundo informações da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza, a priorização por meio das faixas exclusivas leva a uma economia de 3,7 mil litros de diesel por dia, o que, por sua vez, elimina o lançamento de 9,2 toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Ou seja, além de ter efeito positivo no orçamento das 12 empresas que operam as 270 linhas existentes na cidade, essa redução no consumo do combustível preserva o meio ambiente e a saúde das pessoas – já que o CO2 é um dos responsáveis pelo aquecimento global e por várias doenças respiratórias.
E, com a fiscalização, as regras de circulação nas faixas exclusivas – liberadas apenas aos domingos e feriados – já se tornaram um hábito. Mesmo porque o trânsito irregular nessas vias passou a ser considerado infração gravíssima em janeiro do ano passado, por determinação da Lei Federal nº 13.154, que alterou o Código de Trânsito Brasileiro. Dessa forma, quem não respeita as faixas está sujeito à multa de R$ 191,54 e sete pontos na carteira de habilitação, além de remoção do veículo.
“Os benefícios da priorização são muito significativos aqui em Fortaleza. Percebemos, em nossas pesquisas feitas no dia a dia, uma melhora na satisfação do usuário, tanto com a regularidade do serviço quanto com a mudança que fizemos na tecnologia veicular para atender à mudança.
Colocamos veículos articulados nas ruas, com ar-condicionado, câmbio automático e outros componentes que dão mais conforto. A resposta tem sido excelente”, destaca o presidente da Etufor, Antônio Ferreira.
Matheus de Farias Paula, 21 anos, concorda. Ele utiliza duas linhas e trafega diariamente pela faixa exclusiva da Avenida Domingos Olímpio, que reduziu em pelo menos 20 minutos cada viagem do assistente administrativo. “Com a implantação das faixas exclusivas, os ônibus ficaram mais rápidos. Considero o transporte da minha cidade um dos melhores do país, pois, além de tudo, os veículos ainda têm um ambiente limpo e confortável”, elogia Matheus.
Usuário de uma linha que passa pela Avenida Gomes Matos – com faixa exclusiva em toda a extensão –, o estatístico Marcos Henrique, 28 anos, utiliza o transporte público de segunda à sexta. A velocidade, para ele, é o maior ganho. “O tempo de viagem fica menor. Todos que conheço e que usam ou já usaram as faixas exclusivas são unânimes ao falar da melhoria nos deslocamentos”, conta.
Foto: Sindiônibus